sábado, dezembro 25, 2004

Tudo tem um início

Alguém espirituoso, e antenado no que rola em ambos os mundos - o real e o virtual - já disse que, ao lado da globalização, a outra grande tendência do mundo moderno é a "blogalização". Todo mundo parece estar fazendo um "blog", que, no meu modesto entendimento, parece ser o sucessor pós-moderno do diário que eu escrevia quando adolescente, com a diferença de que o diário era um de meus segredos mais bem guardados - que me lembre, jamais permiti que alguém o lesse -, enquanto os tais blogs ficam na internet, à disposição de qualquer um no planeta que tenha um computador e uma linha telefônica. Suponho que isso seja uma conseqüência dessa cultura do voyeurismo que anda tão em voga nos dias de hoje, exemplificada por programas do tipo Big Brother e assemelhados. Pessoalmente, nunca entendi por que alguém haveria de achar interessante saber detalhes da intimidade de pessoas que nem conhece; os tais programas jamais me interessaram, e, no que diz respeito aos blogs, os poucos em que cheguei a dar uma olhada eram verdadeiros festivais de banalidade e, pior, de cinismo - o que não é surpreendente, já que hoje em dia, quem quiser passar por inteligente e "sofisticado" precisa ser, antes de mais nada, cínico. De minha parte, sinto um franco desprezo por essa espécie de "modernidade".

A esta altura, seria bastante lógico que quem estiver lendo isto (se é que alguém vai chegar a ler) estivesse se perguntando por que motivo, se tenho tal opinião sobre essa coisa de blogs, resolvi eu também fazer um. É uma questão justa, e a resposta é que tenho a intenção de que este seja um blog diferente. Não pretendo aqui falar da minha vida, pois não me atrai a idéia de me transformar em personagem de um "diário-Big Brother"; será um espaço que dedicarei a uma de minhas maiores paixões: a literatura. Aqui vou falar - bem, vou escrever - sobre o que estiver lendo no momento ou sobre o que tiver lido anos atrás e que, por qualquer razão, me voltar à memória; sobre os grandes clássicos ou sobre os livros que eu considerar dignos de um dia virem a ser incluídos nessa categoria; e não tenham dúvida de que, quando eu não gostar de alguma coisa, vou dizer isso também. Sem dúvida que por vezes, ao falar sobre literatura, o próprio tema me levará a dedicar algumas linhas a assuntos que estejam relacionados a ela, como história, cinema ou música; isso faz parte da brincadeira, e o importante é que sempre estarei escrevendo sobre os assuntos a respeito dos quais me dá prazer escrever.

Mais uma coisa antes de realmente começar: estou ciente de que este blog não irá se tornar popular. Literatura é assunto que interessa a pouquíssima gente, de modo que a freqüência de visitantes aqui não chegará nem a dez por cento da que têm os blogs do outro tipo - aqueles onde as pessoas contam a que festa foram no fim de semana e com quem "ficaram". Isso não me preocupa. Gosto de pensar neste projeto como um "diário literário", e, como sou antiquado, para mim um diário é, ou deveria ser, algo que escrevemos, antes de mais nada, para nós mesmos. Se fosse um diário pessoal, eu não o colocaria na internet, pois, a meu ver, não haveria o menor sentido em fazer isso. Mas, já que é um diário apenas literário, e os livros que leio não pertencem apenas a mim, então aqui está o meu blog, que é, antes de mais nada, para mim; mas, se ao menos uma pessoa tiver a curiosidade despertada para um livro por algo que ler aqui, e graças a isso chegar a lê-lo, eu me considerarei gratificado.

Um comentário:

Georgia Araujo de Oliveira disse...

Minha admiração já existia, talvez, pensava eu, fosse apenas uma projeção irreal do que vc pudesse vir a ser, mas agora vejo que ela se confirma. Era exatamente o desenho retílineo exato que vinha se desenhando na minha mente.
Um blog de literatura. Um excelente blog de literatura. Sim, meu caro, talvez duas pessoas no mundo inteiro venha a ler o que vc escreve. E eu nem preciso citar quem é a outra pessoa no momento em que sabemos que vc é um dos seus fiéis leitores.
Mais uma vez, parabéns.