sexta-feira, julho 27, 2007

Lady of the Lake

(Blackmore/Dio)

There's a magical sound slidin' over the ground
Makin' it shiver and shake
And a permanent cry fallin' out of the sky
Slippery and sly like a snake

With a delicate move kind of shifty and smooth
A shadow has covered the light
Then a beam in the shade from a silvery blade
Has shattered the edge of the night

I know she waits below
Only to rise on command
When she comes for me
She's got my life in her hands

When a movement behind hit the side of my mind
I trembled and shook it away
Then another assault and I started to faulter
Fibres of steel turned to clay

With a bubbly turn now the water should churn
And push it way from the core
And a lady in white will bring sun to the night
Brighter than ever before

I know she waits below
Only to rise on command
When she comes to me
She's got my life in her hands
Lady of the lake

There's a magical sound slidin' over the ground
Makin' it shiver and shake
And a permanent cry fallin' out of the sky
Slippery and sly like a snake

With a delicate move kind of shifty and smooth
A shadow has covered the light
Then a beam in the shade from a silvery blade
Has shattered the edge of the night

Straight down I'm swirling around
Blinded and bruised by the strain
There must be some way to see
Diamonds out of the rain

I know she waits below
Only to rise on command
When she comes for me
She's got my life in her hands
Lady of the lake

* * *

Uma de minhas grandes frustrações é não conseguir fazer poesia. Sei que escrevo bem, e, por mais que isso seja inútil neste mundo onde o semianalfabetismo não é obstáculo para uma carreira "bem-sucedida" (conforme a noção corrente de "sucesso"), escrever acabou por tornar-se um dos maiores prazeres que encontro numa vida que oferece tão poucos motivos de satisfação. Mas não há nada como ser capaz de alinhar em versos, com ou sem rima, os nossos sentimentos mais pungentes, jogá-los numa folha de papel, onde já não nos podem machucar, e ali os olhar com a sensação de quem venceu uma luta. Transformar dor em beleza! Mesmo as horrendas tentativas que ocasionalmente já perpetrei fizeram-me um certo bem. Escrever um bom poema deve ser como arrancar um espinho do próprio coração.

Aos que não têm esse dom, resta ler os poemas daqueles que o têm - uma forma de catarse, penso eu. O poema que diz as coisas que gostaríamos de dizer se o conseguíssemos não precisa necessariamente estar em livros, nem num site de poesia. A letra de uma música também é poesia - boa ou ruim, mas poesia -, embora só em momentos especiais a percebamos como tal.

Conheço Lady of the Lake há uns 17 ou 18 anos - o Rainbow, grupo que a compôs e gravou, foi uma das primeiras bandas de rock que ouvi. Seu vocalista e letrista, Ronnie James Dio, passaria depois pelo Black Sabbath, além de fazer uma cultuada carreira solo, e hoje é tido como um dos maiores cantores da história do rock. O guitarrista Ritchie Blackmore, membro fundador do Deep Purple, não é uma figura menos lendária. Considero Lady of the Lake um dos mais belos produtos da breve parceria dos dois.

Lady of the Lake ('A Dama do Lago') é obviamente uma referência tomada às lendas do ciclo arturiano, adaptada por Dio à sua própria e muito particular maneira. São versos bastante obscuros, e, como dizia Renato Russo, qualquer tentativa de interpretação deve ser feita com cuidado, pois pode acabar revelando mais sobre a pessoa que tenta interpretá-la do que sobre a letra em si...

Sempre me pareceu que essa letra quer passar a mensagem de que, não importa que trevas e turbulências enfrentemos, há sempre uma luz para aqueles que sabem para onde olhar - uma luz que pode tornar o mundo (ao menos o mundo particular de cada um) mais belo e significativo, fazê-lo valer a pena. Talvez eu interprete dessa forma porque meu mundo interior sempre me foi muito caro. É muito mais fácil não se sentir sozinho quando se tem uma vida interior intensa, e isso depende apenas da vontade do indivíduo. É simples.

Porém, como às vezes acontece, esses versos ganharam novos significados para mim, num momento em que, ao ouvir a música (calculo que pela 1294.ª vez na minha vida, ou por aí), eu me encontrava num estado melancólico e sentimental, um daqueles momentos em que nem mesmo a vida interior intensa de que eu falava há pouco consegue evitar que um sujeito se sinta dolorosamente sozinho. Então, enquanto Blackmore tocava seu solo, pus-me a me perguntar quem era, afinal de contas, essa Dama do Lago - quem ela era para mim.

Um lago, com suas profundezas sombrias, pode simbolizar muita coisa, desde o desconhecido infinito do universo que me cerca até o outro desconhecido infinito dentro de mim - ou qualquer coisa entre os dois. Quem seria então, quem poderia ser, essa Dama que surge de lá?... Minha intuição a respeito dela era de algo realmente grande e bom - o sol que ela traria para a minha noite, e que me faria ver tudo de uma maneira diferente e mais bela. Mas, independente do que pudesse ter nas mãos quando viesse, como seria ela? Não me pergunto que aparência teria, pergunto-me apenas como me sentiria ao reconhecê-la, ela que com apenas um olhar daria um sentido a tudo. E não precisaria trazer nas mãos a sagrada Excalibur para me entregar: ela, a Dama, sua presença, bastaria para que eu entendesse que a verdadeira Excalibur não precisava ser retirada de uma rocha, nem trazida das profundezas místicas de um lago qualquer - ela sempre teria estado na minha mão, desde o início, sem ser percebida. E a Dama estaria sempre ao meu lado e em meus pensamentos, sua suavidade amplificando minha força, a lembrança de seu sorriso bastando para curar qualquer ferida. Guiado pelo toque delicado de seus dedos, meu braço poderia abater gigantes.

Um belo sonho, e os sonhos são necessários - não importa se podem ou não se realizar. Eles são necessários porque são tudo o que impede que a brutalidade do mundo "real" seque nossa alma e nos transforme em seres triviais e mesquinhos. Porém, naquele momento, ao mesmo tempo em que pela primeira vez encontrava uma resposta, por nebulosa que fosse, sobre quem seria a minha Dama do Lago, também compreendi que ela não podia existir. Pois, a partir do momento em que ganhasse existência real, ela estaria maculada pelo mundo, e já não seria mais a Dama do Lago.