terça-feira, abril 15, 2008

Literatura Fantástica

"Trust the tale, not the teller!" (D.H. Lawrence)

Esta tarde passei duas horas muito agradáveis participando da aula inaugural da oficina literária O Fantástico no Conto, ministrada por Maurício Chemello, mestre em Letras, na livraria/café Letras & Cia (Av. Osvaldo Aranha, 444). Adoraria poder participar de todos os encontros, que acontecerão até fins de junho, sempre às terças-feiras, mas, infelizmente, trabalho no interior e geralmente fico de segunda a sexta-feira longe de Porto Alegre. Pude estar presente à aula inaugural (aberta a todos os interessados, sem necessidade de inscrição) por estar de férias no momento. Ao me despedir do Maurício, sugeri que promova uma oficina aos fins de semana, o que seria ótimo para diversas pessoas que gostariam de participar e têm o mesmo problema que eu.

Sendo eu um graduado em Letras, não sou estranho à nomenclatura particular da Teoria Literária, mas, como, na faculdade, o currículo dedicava pouquíssimo espaço à literatura fantástica, saí desta aula com algumas noções novas. Aprendi, por exemplo, que o que comumente chamamos de literatura de fantasia (exemplo: todas as sagas heróicas ambientadas em mundos próprios e/ou envolvendo seres imaginários) é conhecido, dentro da Teoria Literária, como realismo mágico. Imagino que a palavra realismo, aí, aponte para o fato de que essas histórias descrevem uma determinada realidade - não a nossa, mas uma realidade - onde as coisas acontecem de modo a serem coerentes com a lógica interna desse universo próprio. Já o conto fantástico, assunto propriamente dito da oficina, é aquela história que, em princípio, retrata a realidade cotidiana - onde o autor introduz algum elemento incomum, inusitado, inesperado, que vai contra a ordem "normal" das coisas, podendo, ou não, ter caráter sobrenatural. Forçando um pouco (não muito) essa definição, poderíamos até dizer que todo conto é fantástico!... Pois toda história, para existir, precisa envolver um conflito - algo que perturba o andamento da vida cotidiana -, sendo que o enredo falará basicamente das ações dos personagens com o objetivo de restabelecer o equilíbrio. Isso se aplica tanto a Os Três Porquinhos como a Guerra e Paz; é um princípio universal. Daí temos que, se for para escrever uma história apenas narrando fatos comuns do dia-a-dia, onde nada de diferente acontece, melhor não escrevê-la. Por outro lado, se, em meio ao cotidiano, destaca-se um fato qualquer digno de ser narrado, isso não encaixa a história na definição acima? Pois!...

Claro que sabemos que não é bem assim, mas não dá pra resistir a fazer um pouco de "terrorismo" contra aquelas criaturas cansativas que gostam de torcer o nariz para livros, filmes, etc., dizendo que são "inverossímeis", como se isso fosse um defeito...

Como "tema" para a próxima aula, da qual, infelizmente, já não poderei participar, o Maurício nos recomendou ler a coletânea de contos O Livro de Areia, do argentino Jorge Luís Borges, um grande autor do conto fantástico e também ensaísta, que vem a ser um dos (inúmeros) escritores com os quais já estou há muito tempo devendo a mim mesmo um contato mais aprofundado. Mesmo não podendo seguir a oficina, pretendo fazer o tema: depois escrevo aqui sobre o livro.

Para pensar: cá entre nós: para que a literatura (ou, se pensarmos bem, todas as artes) serviria, se nada mais pudesse fazer do que copiar a realidade?

3 comentários:

Aline Valek disse...

A fantasia é uma parte inseparável da realidade... E até na literatura de fantasia a realidade pincela seus próprios conflitos. Ora, se até naqueles mundos oriundos da mente de seus autores há um pedaço da realidade onde ele vive (e vice-versa sempre)!
Deve ter sido uma oficina deveras produtiva e proveitosa. Continue passando um apanhado geral dos conhecimentos que você adquirir na oficina por aqui, para os interessados nessa vertente!!!

Abraços, Valek.

Anônimo disse...

Obrigado Marcos por ter produzido um texto tão interessante e que partiu de uma aula minha, fico eternamente lisonjeado. Agora posso te dizer algo que não disse em aula: a literatura é para poucos, mas está disponível para todos. É preciso ensinar a ler e muito mais, algo que tu bem sabes, aprender a pensar e a tirar conclusões sobre o que fazemos e vivenciamos. Abraço rapaz.

Maria do Carmo disse...

fiquei encantada com o seu comentário. bom seria se todas as pessoas tivessem acesso a esse tipo de cursos, palestras, oficinas . obrigada por ter deixado esse esclarecimento via internet. abraços