A Maldição do Titã é o terceiro volume da série Percy Jackson e os Olimpianos, e, se eu fosse pôr os títulos na ordem em que mais me agradaram, colocaria este em segundo lugar, por não ser tão bom quanto O Ladrão de Raios, mas melhor que O Mar de Monstros. Percy está agora com 14 anos e recebe a missão de ir, com as também meios-sangues Annabeth e Thalia, atender a um chamado de seu velho amigo Grover, o sátiro, que, como já tantas vezes antes, está infiltrado numa escola, como olheiro, para investigar a possível presença de outros filhos de deuses. E ele localizou dois, cuja filiação divina ainda é desconhecida, mas que são obviamente poderosos: Bianca di Angelo, de 12 anos, e seu irmão Nico, de dez. Como não é difícil prever, Percy e seus amigos logo se veem envolvidos numa luta com monstros a fim de tirar os irmãos Di Angelo da escola e levá-los em segurança até o Acampamento Meio-Sangue - mas surgem dois fatos não tão previsíveis: o primeiro é que, prestes a ser derrotado, o quarteto é salvo pela deusa Ártemis e suas Caçadoras virgens, que parecem surgir do nada justamente no momento certo; o segundo é que um monstro, em sua fuga, acaba levando Annabeth consigo.
Essa, aliás, é uma das grandes sacadas do livro: Annabeth não aparece durante a maior parte da história, mas, de certa forma, está presente o tempo todo, já que o fato de saber que ela está em algum lugar, sendo mantida prisioneira pelo inimigo, leva Percy a, pela primeira vez, refletir de verdade sobre a natureza de seus sentimentos por ela. E ele não se sente melhor ao descobrir que Annabeth pensava em juntar-se às Caçadoras de Ártemis - donzelas adolescentes que acompanham a deusa em suas aventuras, ganhando a imortalidade em troca do juramento de renunciarem para sempre ao amor. Esse pensamento nunca é formulado de forma explícita, já que Percy é o narrador da história e Riordan, habilmente, faz com que haja coisas que o jovem herói não admitiria nem perante si próprio, mas é fácil compreender que a questão que mais o tortura é: "Ela faria mesmo isso? Mas... e eu?" Não há como não se solidarizar com sua angústia.
Porém, o sofrimento de Percy parece insignificante diante dos acontecimentos que se desenrolam: fica-se sabendo que o exército de Cronos - o Senhor dos Titãs, que tem a ambição de retomar o poder que os Olimpianos lhe tiraram há milhares de anos - tem um novo comandante, um misterioso "General", sob cujas ordens estão agindo Luke, o filho rebelde de Hermes, um ex-campista do Acampamento Meio-Sangue, e seu bando de monstros e semideuses renegados. Toda essa buona gente está atrás de um monstro em especial, um tão terrível que, dizem as profecias, seria capaz de destruir o Olimpo. Ártemis decide partir sozinha para tentar localizar e liquidar esse monstro antes que os lacaios de Cronos o encontrem - e, como Annabeth, cai nas garras do inimigo. Organiza-se então um grupo de busca misto, formado por campistas e Caçadoras, para partir numa missão de triplo objetivo: resgatar Ártemis, descobrir o monstro da profecia e, se possível, tentar libertar Annabeth.
A presença de Thalia contribui para tornar o convívio do grupo de aventureiros mais complicado, já que, como filha de Zeus, ela tem um gênio um tanto tempestuoso, mas isso é apenas a ponta de um iceberg: em O Mar de Monstros Percy tomou conhecimento de uma profecia que dizia que, quando um meio-sangue, filho de um dos Três Grandes (Zeus, Poseidon ou Hades) completasse 16 anos, ele ou ela teria de tomar uma decisão que poderia salvar o Olimpo ou destruí-lo - e, se o Olimpo for destruído, toda a civilização ocidental vai para o beleléu. O detalhe interessante é que Thalia estava morta na ocasião, de modo que Percy, como o único filho vivo conhecido de um dos Três Grandes, parecia, sem sombra de dúvida, ser a pessoa da profecia. Porém, a partir do momento em que Thalia foi trazida de volta à vida pela magia do Velocino de Ouro, já não há certeza: pode ser ela ou Percy.
A aventura segue a receita já conhecida dos fãs de Rick Riordan: doses de tensão, ação e humor alternadas de forma habilidosa, personagens cativantes, um uso inteligente do potencial infinito de gerar coisas "pitorescas" que existe em misturar a mitologia com o mundo moderno (o deus Apolo retratado como um playboy que guia um Maseratti em vez da tradicional carruagem do Sol é simplesmente impagável!), muitos mistérios a desvendar, e um final surpreendente. O único defeito da saga de Percy Jackson e os Olimpianos é que, mais cedo ou mais tarde, ela terá que acabar...