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sexta-feira, setembro 04, 2015

Deuses e Heróis

Conta-se que Escopas, homem nobre e importante da região grega da Tessália, pediu ao afamado poeta Simônides de Ceos que compusesse uma ode em louvor a suas vitórias – que podem ter sido no campo de batalha ou em competições atléticas; as fontes divergem. Tratava-se de uma prática comum na época: poetas eram solicitados a compor obras sobre o tema que lhes fosse proposto, recebiam por isso, e era assim que muitos deles ganhavam a vida. A ode deveria ser entoada num banquete que Escopas planejava oferecer. Chegado o dia, ao lhe ser pedido que apresentasse o poema, Simônides levantou-se com sua lira e cantou uma das mais belas odes já ouvidas na Tessália, celebrando as vitórias de seu anfitrião. (Não estranhem se uso "cantar" em vez de "declamar"; na época, os poemas eram realmente cantados, pois não se fazia distinção entre poesia e música.) Para obter um melhor efeito lírico, o poeta ornamentou a obra com menções aos feitos dos admiráveis gêmeos Castor e Pólux, filhos de Zeus e Leda, irmãos da célebre Helena de Esparta, mais conhecida como Helena de Troia.

Seria de se imaginar que qualquer homem razoável se sentisse honrado por ter seu nome citado lado a lado com os de tão insignes heróis, mas, infelizmente, Escopas era do tipo egocêntrico. Queria a admiração de seus convivas toda para si, e não estava disposto a partilhá-la, nem mesmo com os legendários filhos de Zeus, de modo que não lhe agradou o que estava ouvindo. Quando Simônides, tendo terminado de cantar, dirigiu-se a ele para receber sua recompensa, Escopas pagou-lhe metade da soma combinada, dizendo-lhe, em tom de troça, que cobrasse o restante de Castor e Pólux. Simônides, decepcionado e ofendido, retornou ao seu lugar em meio à zombaria geral dos convidados.

Pouco mais tarde, um dos servos de Escopas entrou no salão de banquete e avisou a Simônides que estavam lá fora dois jovens a cavalo, que diziam ter de lhe falar com urgência. Saindo, o poeta não encontrou ninguém à sua espera, mas repentinamente o teto do salão veio abaixo, matando Escopas e seus convidados. Depois de pedir ao servo mais detalhes sobre a aparência dos jovens que o haviam procurado, o desconcertado Simônides convenceu-se de que não eram outros senão os próprios Castor e Pólux. A história termina dizendo que os corpos dos comensais do banquete ficaram tão desfigurados, que seus familiares não conseguiam identificá-los para poder dar a cada um os ritos funerários devidos, mas Simônides lembrava o nome de cada um dos presentes e o exato lugar onde ele estava sentado, e, graças a isso, todos os corpos puderam ser identificados.

Essa bela história talvez não seja verídica (embora eu não a desacredite totalmente: considero uma rematada tolice duvidar de que maravilhas possam mesmo acontecer), mas, seja ou não, ela ilustra bem um fato curioso acerca dos grandes poetas da Antiguidade: suas vidas tendem a fundir-se com a própria mitologia que lhes servia de tema, de modo que para nós, hoje, eles acabam por ser figuras quase tão legendárias quanto os heróis cujos feitos celebravam. Assim foi com o maior de todos, Homero, a quem são atribuídas a Ilíada e a Odisseia, e com outros que vieram depois – entre eles Simônides, o protagonista de Deuses e Heróis.

Mary Renault, cujo Rei Morto, Rei Posto já tive oportunidade de comentar, conduz a nós, seus leitores, em outro mergulho na Antiguidade Clássica, embora, desta vez, a um período histórico posterior e bem diferente daquele em que tiveram lugar as façanhas do herói Teseu. Simônides viveu aproximadamente de 556 a 468 a.C., numa Grécia mais civilizada e de instituições já consolidadas, e, por consequência, uma Grécia que podia dedicar mais atenção às artes, fato que é bem retratado no romance. O que, é claro, não significa que as guerras tivessem ficado no passado – nem as guerras contra inimigos externos, no caso o Império Persa, nem as guerras locais, entre diferentes cidades-estado gregas, coisa que permeou praticamente toda a história da Grécia Antiga e impediu o êxito de diversas tentativas de unificação política entre os povos de língua e cultura helênicas. Simônides, por sinal, foi o autor do famoso epitáfio gravado no monumento erigido em homenagem a Leônidas e seus trezentos espartanos ("Ide dizer a Esparta, ó estranhos que passam / Que aqui, obedientes às suas leis, jazemos."), aliás, um dos poucos fragmentos de sua obra que chegaram até nós, infelizmente. Tampouco são conhecidos muitos detalhes de sua biografia, de modo que a autora teve de fazer o que fazia tão bem: mesclar a informação histórica disponível com o produto de sua própria imaginação. O livro é um mosaico de eventos factuais e fictícios e de personagens históricos e inventados, sendo que estes últimos não parecem menos convincentes que os primeiros, e a interação entre todos é perfeitamente plausível. Quer dizer, parte do que aqui lemos efetivamente aconteceu – e o restante poderia ter acontecido.

A narrativa segue um esquema semelhante ao de Rei Morto, Rei Posto: um Simônides já idoso, aproximando-se do final de uma carreira prestigiosa, parece sentir que é chegado o momento de contar suas memórias, e essa história tem início na ilha de Ceos (hoje Kea), uma das Cíclades. Seu pai, Leoprepes, era um homem de posses para os padrões da ilha e um de seus cidadãos mais proeminentes, o que não significa que não trabalhasse duramente, ou que seus filhos pudessem, em princípio, esperar da vida muito mais que isso. Para maior azar de Simônides, ele era o filho varão mais jovem, além de agraciado pela natureza com um tipo físico pouco admirado entre os ilhéus, e entre os gregos da etnia jônica em geral: baixo e magro, embora de boa constituição; pele morena e cabelos negros, sem falar num rosto não exatamente atraente, enquanto seu irmão, Teásides, era o jovem heleno perfeito sempre retratado por pintores e escultores – alto, loiro, belo e atlético. Só isso já teria bastado para definir o papel de cada um: Teásides era o filho de quem os pais esperavam que os enchesse de orgulho e trouxesse honra ao nome da família; já Simônides, se dependesse dos planos deles, nunca iria muito além de ser um trabalhador não remunerado nas lavouras e rebanhos do pai. Apesar disso, os dois irmãos se dão bem; na verdade, Teásides parece ser o único a dedicar a Simônides alguma atenção e afeto.

Durante a infância e início da adolescência, Simônides exerce a ocupação mais icônica possível para um menino grego: a de pastor. E, como todo pastor, tem por hábito cantar e tocar flauta para preencher as longas horas vazias vigiando os carneiros que pastam. É dessa forma que descobre seu talento, pois possui uma voz naturalmente afinada, e, tão importante quanto isso para um poeta da época, uma ótima memória. Entretanto, por muito tempo, ele guarda só para si sua ambição de ser poeta, e acaba por amargurar-se, já que, vivendo na rústica Ceos, e ainda sendo o filho desprezado de um pai severo e austero, realizar esse sonho parece impossível. Sua sorte muda quando um poeta de nome Cléobe, de passagem pela ilha, se apresenta no casamento de um homem importante da comunidade – e o velho Leoprepes lá está como convidado, levando toda a família, até mesmo o filho feioso que geralmente é deixado em casa. O jovem acaba sendo aceito como ajudante e aprendiz pelo artista, e em sua companhia deixa Ceos, aos 14 anos, para tentar a sorte na carreira escolhida.

Cléobe vem a ser mais pai para Simônides do que Leoprepes alguma vez o foi, ensinando-lhe seu ofício com dedicação e paciência. Mesmo quando fica evidente que o rapaz é um talento dos grandes, jamais demonstra ciúme, nem qualquer receio de ser superado pelo discípulo. Natural de Éfeso, o velho bardo possui uma casa e certo patrimônio nessa cidade, mas a vida de um poeta, naquela época, era uma vida errante, sujeita a todas as agruras que podem atingir os que não têm pouso certo. Durante os primeiros anos a serviço de seu novo mestre, Simônides conhece boa parte da Grécia insular e continental, passa por apertos de todos os tipos, e, principalmente, aperfeiçoa sua arte, amplia seu repertório e conhece pessoas interessantes. Seu aprendizado prossegue em Éfeso, onde mestre e discípulo se fixam por algum tempo, e de onde acabam fugindo (assim como grande parte da população) por causa da ameaça da invasão persa. O novo domicílio dos dois é a cidade de Samos, na época, provavelmente, a mais rica do mundo helênico, embora não a de maior efervescência cultural: essa já era então, como ainda o seria por muito tempo, Atenas. Samos é governada pelo tirano Polícrates (a palavra "tirano", na origem, não tinha o sentido que hoje lhe atribuímos: significava apenas um governante que tivesse chegado ao poder pelos próprios meios, e não por herança ou por eleição regular). Lá, Simônides começa, aos poucos, a atuar de forma profissional, embora não de um jeito que seu mestre considere particularmente honroso: cantando numa taberna. Mesmo não sendo muito bem vista, essa ocupação lhe permite garantir seu pão de cada dia, e, não menos importante que isso, fazer muitos contatos, o que era outra coisa da qual um poeta grego daqueles tempos não podia prescindir.

Não obstante, é em Atenas, já com 20 e poucos anos, que o jovem poeta vê sua carreira decolar de verdade, em grande parte graças à proteção e incentivo de outro tirano, Pisístrates, que, no entanto, é muito diferente de Polícrates. Enquanto o tirano de Samos parece apadrinhar artistas da mesma forma como adquire objetos preciosos (ou seja, por mera exibição de riqueza e poder), Pisístrates é um real admirador das artes em geral e da poesia em especial. Há um trecho particularmente interessante, que reproduz uma conversa da qual participam o tirano, seu filho Hiparco, e Simônides, e que demonstra a preocupação dos dois primeiros com a preservação das grandes obras poéticas, que, na época, eram transmitidas apenas oralmente e conservadas de memória. Nunca passou pela cabeça de Simônides que as obras de Homero, por exemplo, pudessem ser perdidas – ele próprio sabe de cor a Ilíada e a Odisseia (que, juntas, têm mais de 27 mil versos), e, embora seja alfabetizado, jamais considerou a possibilidade de escrever nem os poemas que aprendeu, nem os seus próprios: para ele, a escrita é para fins práticos e prosaicos, como a contabilidade da fazenda de seu pai. Poesia deve ser guardada somente no espaço entre as duas orelhas, como ele diz; isso é questão de orgulho não só para ele, mas para a maioria dos poetas da época… E, se me for permitida uma observação pessoal, devo dizer que, embora ser capaz de declamar toda a obra de Homero de cor seja, sem dúvida, um feito formidável e digno de admiração, é difícil não ter vontade de xingar um pouco esses sujeitos quando penso no sem-número de obras deslumbrantes que certamente desapareceram para sempre, só porque alguém, um dia, por orgulho, recusou-se a registrá-las por escrito. Baquílides, sobrinho e discípulo de Simônides, parece ter sido um dos primeiros poetas a romper com esse preconceito e passar a escrever, o que o tio acaba aceitando, sem nunca verdadeiramente aprovar.

(Observe-se também, apenas de passagem, que "entre as duas orelhas" é um anacronismo de linguagem, pois, na época, ainda não se sabia que o cérebro era o responsável pela inteligência e pela memória; a teoria mais aceita era a de que essas funções fossem do coração. Quanto à questão de para que o cérebro realmente servia, as opiniões se dividiam. Aristóteles, um dos maiores filósofos gregos, que viveu cerca de um século depois do tempo de Simônides, acreditava que ele funcionasse como uma espécie de radiador, dissipando o excesso de calor do organismo; outros atribuíam à massa cinzenta funções ainda menos nobres, como a de produzir o muco que lubrifica nossas vias respiratórias.)

Pisístrates é um governante justo, que ganha a admiração e o respeito de Simônides, assim como da maior parte dos atenienses, e, quando morre, seus filhos parecem ser capazes de, juntos, dar continuidade ao trabalho do pai. Eles recebem o título de arcontes – o arcontado era uma assembleia formada por nove cidadãos eminentes, que partilhavam entre si as responsabilidades do governo –, embora todos saibam que têm, na prática, muito mais poder que seus pares. Hípias, o mais velho, é mais sisudo e preocupado, enquanto o outro, Hiparco, é um homem que gosta de aproveitar a vida e de cercar-se de companhias agradáveis. Não que seja dado a orgias ou excessos, pelo menos não de modo habitual; Simônides o estima, e, aos poucos, a relação de ambos extrapola a de artista e mecenas, transformando-se em verdadeira amizade. Não há motivo algum para que o poeta se importe com a queda que Hiparco tem por belos rapazes, nem com o hábito dele de ter sempre um favorito partilhando de seu divã nos banquetes, e, mais tarde, sem dúvida, também seu leito. Esses favoritos estão sempre mudando, cabendo a cada um deles um "reinado" de poucos meses, de modo que, por tudo o que Simônides pode ver, seu amigo não tem propensão a formar laços sentimentais, e ainda menos a qualquer tipo de fixação ou obsessão. Porém, os seres humanos nunca deixam de nos surpreender, e isso era tão verdadeiro na Grécia de 2500 anos atrás quanto o é hoje.

Na época em que Simônides viveu, relacionamentos homoafetivos eram vistos com naturalidade entre a alta sociedade (não entre a população em geral) na maioria das cidades gregas, mas existiam certas regras não escritas que deviam ser observadas. Havia uma distinção bem clara entre "amante" e "amado". O amante (erastes) era um homem adulto, normalmente na casa dos 30 ou 40 anos, já estabelecido socialmente e quite com a obrigação de assegurar a continuidade da família – quer dizer, geralmente um homem casado e com filhos. O "amado" (eromenos – pronuncie como proparoxítona) era um efebo (adolescente). O primeiro oferecia o afeto, o segundo o recebia – não era uma via de mão dupla, ao menos não em teoria. Não era bem visto que o parceiro mais jovem correspondesse; ser alvo das atenções do mais velho era visto como uma honra, especialmente se ele fosse alguém de alta posição social, mas não como um prazer. Se a reciprocidade existisse, era de bom tom que só fosse manifestada em privado. Tais relacionamentos podiam, ou não, incluir intercurso sexual. O mais importante era o que o eromenos podia aprender com o erastes, principalmente no que se referia a aprimorar o traquejo social, a conhecer pessoas e ingressar em certos círculos, o que iria repercutir em toda a sua futura vida social – ter um erastes com influência e contatos podia colocar o jovem no caminho de uma carreira bem-sucedida. Por fim, era considerado louvável que o erastes mantivesse uma visão realista das coisas, abstendo-se de se apaixonar pelo jovem parceiro, uma vez que esse tipo de relação tinha prazo de validade, devendo acabar quando o rapaz deixava a puberdade, já que, a partir daí, ele passaria a ter outras coisas das quais se ocupar, como a carreira e o casamento, até chegar aos 30 e poucos anos, idade em que estaria apto a tornar-se erastes de seu próprio eromenos. De qualquer forma, o normal era que uma ligação desse tipo durasse alguns anos; não era frequente que um mesmo homem vivesse a experiência mais que duas ou três vezes ao longo da vida, pois não era visto como adequado continuar a ter esse comportamento depois de uma certa idade. A alta rotatividade de favoritos no divã de Hiparco era uma exceção, tolerada porque naquela época, como hoje, os poderosos eram vistos como pessoas a quem era permitido transgredir certas convenções.

Simônides, ao menos na versão de Mary Renault, não se envolve com nada disso – sua conduta parece ser estritamente heterossexual, seja por ter sido criado em meio aos costumes austeros de Ceos, ou apenas por uma questão de preferência pessoal. Mesmo suas relações com mulheres não são muitas, em parte devido a sua intensa dedicação a sua arte, em parte por causa de traumas da juventude, ligados à rejeição que não poucas vezes sofreu por causa de sua feiura – que, aliás, em sua opinião, teve o lado bom de mantê-lo fora da mira dos apreciadores de efebos. Porém, ele acaba sendo testemunha de uma ocasião em que uma relação erastes/eromenos abalou a sociedade ateniense. Os protagonistas do episódio são o jovem Harmódio, filho de uma família ateniense antiga e tradicional, e Aristogíton, atleta de certo renome. Harmódio é de uma beleza extraordinária, o que nem sempre é uma sorte; em seu caso, atraiu o azar de chamar a atenção de Hiparco, que fica obcecado pelo rapaz, a ponto de aparentemente já não comer ou dormir direito (observações de Simônides, a cujos olhos atentos não escapa a aparência abatida e febril de seu amigo). Seja porque seu coração já pertence a Aristogíton, ou porque lhe repugna a ideia de ceder ao assédio de Hiparco a troco de ascensão social, ou simplesmente porque o arconte não lhe agrada – e talvez por tudo isso –, o fato é que Harmódio repetidamente repele as investidas amorosas que vai recebendo, o que acaba levando Hiparco ao desespero, e a chegar a um ponto do qual Simônides jamais o julgaria capaz: o de tentar vingar-se do jovem adotando represálias contra sua família. Isso tudo conduz a um desenlace desconcertante e terrível.

O livro termina com esse incidente, que teve lugar quando Simônides tinha pouco mais de 40 anos, sendo que ele viveria até próximo dos 90; o poeta ainda viajaria muito, viveria em diferentes lugares (Tessália, novamente Atenas, e por fim a Sicília, na época colônia grega, onde terminaria seus dias) e foi contemporâneo de muitos eventos importantes da história grega, além, é claro, de ter composto inúmeros poemas, que, infelizmente, nunca leremos. Portanto, se Deuses e Heróis tem um defeito, é o de ser curto demais. Acompanhar a prosa de Mary Renault é um prazer difícil de descrever, especialmente numa boa tradução, feita por alguém que, mais que o mero domínio das línguas inglesa e portuguesa, também tinha cultura para compreender as inúmeras referências históricas e mitológicas presentes no texto, e tratá-las de forma adequada: registro aqui todo o meu respeito ao Sr. Donaldson M. Garschagen, um tradutor de verdade, de um tipo que quase não existe mais. Também cabe avisar que essa mesma cultura, bem como a capacidade de apreciar uma linguagem elaborada, será muito útil a quem desejar ler o livro.

O fato de Simônides ter vivido durante um dos períodos mais importantes para o desenvolvimento intelectual da Grécia não passa em branco. Ao longo da narrativa, o protagonista tem oportunidade de interagir com um expressivo punhado de figuras relevantes: poetas como Laso, Íbico, o já citado Baquílides, e, de modo especial, Anacreonte, este um de seus melhores amigos; o arquiteto e escultor Teodoro; o filósofo e matemático Pitágoras; e o dramaturgo Ésquilo. Todos pessoas reais, alguns mais famosos, outros menos, mas todos tendo contribuído de forma valiosa para o engrandecimento da cultura grega, e, por consequência, de toda a cultura ocidental – na época, hoje e para sempre.

Uma curiosidade final: entre as lembranças esparsas que vão surgindo enquanto ele conta sua história (algo que esperaríamos de um homem idoso), o Simônides de Mary Renault nos oferece uma versão um pouco diferente da história do banquete de Escopas, que eu contei no início deste post; uma versão mais simpática a Escopas, e na qual o elemento sobrenatural aparece atenuado, de modo que o leitor pode, se o preferir, atribuir a salvação da vida do poeta a uma coincidência providencial. Se admitirmos que essa versão foi a que de fato aconteceu, então aquela outra certamente recebeu uma adaptação, destinada a fazer dela uma fábula com conteúdo moral. A verdade nunca será conhecida, mas, seja como for, eu me permito ter a opinião de que a versão que contei é mais bonita.

E agora é para concluir mesmo: o título original do livro é The Praise Singer, e existe uma outra edição brasileira, da editora Siciliano, que adotou a sua tradução literal, chamando-se O Cantor do Prazer. Eu prefiro o título da edição que tenho, a mais antiga, da Nova Fronteira, publicada em 1984, pois, embora não tenha nada a ver com o título original, ele reflete melhor o espírito da obra de Simônides, que passou a vida cantando sobre deuses e heróis, enquanto O Cantor do Prazer faz parecer que ele se dedicava à poesia erótica… Como eu já escrevi antes, o mais literal nem sempre é o melhor.

quarta-feira, novembro 23, 2011

Rei Morto, Rei Posto

A escritora britânica Mary Renault (1905-1983) foi durante décadas a grande dama da ficção histórica de língua inglesa. Para dar uma ideia de sua importância, hoje ela é citada como influência por sujeitos como Steven Pressfield, Conn Iggulden, Simon Scarrow e outros desse calibre. Sobre ela, a crítica chegou a dizer que era capaz de escrever sobre a Grécia antiga como se nela tivesse vivido. Deve ser verdade, pois suas narrativas têm o poder de nos dar a sensação de que nós, leitores, é que estamos vivendo lá. 

Dos quatro livros da autora que li até hoje, Rei Morto, Rei Posto (no original, The King Must Die, literalmente 'O Rei Deve Morrer') é sem dúvida o meu favorito; lido na adolescência, foi relido agora por nenhum motivo em especial, a não ser a vontade de curtir novamente a história envolvente e o estilo narrativo agradavelmente trabalhado que caracteriza a autora. Suas frases são por vezes tortuosas, dizendo as coisas de maneiras não óbvias, mas sem cair num pedantismo cansativo. O texto é pontilhado por longas metáforas que lembram irresistivelmente o estilo de Homero, de quem Renault era sem dúvida uma profunda conhecedora. Este livro em particular, ambientado nos primórdios da civilização helênica, antes mesmo da Guerra de Troia, é uma versão romanceada da lenda do herói Teseu, que procura dar aos elementos míticos tradicionais uma interpretação histórica crível. 

Teseu é um dos heróis mais importantes da mitologia grega clássica. Embora seus feitos não rivalizem em número nem em grandeza com os de Hércules - de quem, segundo algumas fontes, teria sido contemporâneo -, pode-se dizer que deixou um legado bem mais importante. Sim, pode-se falar em legado, pois tudo aponta para a probabilidade de ter havido um Teseu de carne e osso, que só não se pode dizer "histórico" porque viveu antes que a escrita fosse introduzida na Grécia. Seu papel, afora muitas façanhas guerreiras, foi o de libertar os gregos do domínio cretense e unificar as diversas pequenas cidades da região da Ática num Estado forte, tendo Atenas como capital. 

Obs.: Em Rei Morto, Rei Posto há algumas menções à escrita, inclusive uma parte em que Teseu escreve do próprio punho uma carta a seu pai. Não sei dizer se isso teria sido uma falha da autora - coisa pouco provável em se tratando de alguém que tão evidentemente possuía vasto conhecimento sobre a Antiguidade - ou se apenas estaria de acordo com as informações que a arqueologia podia oferecer na época em que o livro foi escrito (década de 50). Em todo caso, isso pode ser relevado, e de modo algum tira o mérito da história. 

A narrativa de Renault é em primeira pessoa e segue a lenda de perto. Teseu, rei de Atenas e já de idade avançada, rememora sua vida, desde sua infância na cidade de Trezena, onde nasceu, neto do rei local, Piteu. A princesa Etra, mãe de Teseu, foi a única filha legítima que restou ao rei, que perdeu os outros, bem como a esposa, vitimados por uma epidemia - e filhos bastardos, embora ele os tenha em quantidade, não contam para fins de sucessão, de modo que o pequeno Teseu é o presumível herdeiro do trono. Além de princesa, Etra é uma alta sacerdotisa; nunca se casou e há quem acredite que o pai de seu filho não é outro senão Poseidon, deus do mar. Teseu, é claro, gosta dessa ideia, mas, à medida em que cresce, vai achando-a cada vez mais improvável. Embora a questão de sua paternidade vá ter implicações bem mais sérias que essa em sua vida futura, por muito tempo a coisa que mais o preocupa é o fato de ser menor que a maioria dos rapazes de sua idade, enquanto era crença geral que os filhos de deuses distinguiam-se por serem muito mais altos que os outros homens - e, na Grécia da época, todo jovem desejava ser alto, o que representava uma vantagem na maioria das modalidades atléticas, além de deixá-los mais impressionantes no campo de batalha, portando elmo, escudo e lança.

O mistério de sua origem é esclarecido quando Teseu faz 17 anos: sua mãe conta-lhe que seu pai (que ela ainda se recusa a dizer quem é) ocultou algo sob uma grande pedra, que ele, Teseu, ao atingir a idade adulta, deveria ser capaz de erguer sozinho. Se o jovem se mostrasse à altura do desafio e recuperasse o que estava escondido, ela deveria mandá-lo ao pai; caso contrário, ele poderia terminar seus dias em Trezena. E Teseu não decepciona: cumpre a tarefa não com força bruta, mas com inteligência, usando o princípio da alavanca, e encontra sob a rocha a espada e as sandálias que pertenceram a seu pai. Finalmente é chegada a hora das respostas: a mãe e o avô revelam-lhe que ele é filho de Egeu, rei de Atenas, a quem a então adolescente Etra entregou a virgindade num ato cerimonial, obedecendo à determinação de um oráculo. Na ocasião, Egeu insistiu em que, se dessa breve união resultasse um filho homem, este deveria ser mantido na ignorância de sua origem até que tivesse crescido e demonstrado sua capacidade, pois, caso se tornasse público que era seu filho, o menino correria o risco, mesmo ali em Trezena, de tornar-se um alvo para os ambiciosos parentes da casa real ateniense. 

Teseu parte para Atenas pela perigosa Estrada do Istmo, e pelo caminho elimina uma série de bandidos - essa, conforme a lenda, foi a primeira façanha a dar algum destaque a seu nome, mas Renault não entra em detalhes nem se alonga a respeito (leiam aqui sobre um certo Procusto, cuja história vale a pena conhecer). Quando Teseu chega à cidade de Elêusis, aí sim, a autora por fim o tem onde o queria desde o início. Essa cidade segue a religião antiga, a do "povo da costa", que ocupava a Grécia antes da chegada dos helenos, e por quem estes últimos parecem sentir um incômodo misto de desprezo e fascínio (posso estar enganado - se alguém puder retificar ou ratificar minha teoria, agradeço -, mas pela descrição física desse povo, mais o fato de eles chamarem a si mesmos de "mínios", suponho que fossem um ramo da civilização minoica, e, portanto, aparentados com os cretenses, embora muito menos poderosos que eles na época. Na verdade, "minoico" é um nome cunhado pelos arqueólogos, pois não se sabe como esse povo chamava a si mesmo, mas Renault naturalmente precisava designá-los de algum modo). 

A "religião antiga" mencionada é essencialmente matriarcal. A principal sacerdotisa é também a rainha, e é quem de fato governa: o rei não passa de seu marido, pouco mais que uma figura decorativa, além de um acessório indispensável se ela pretende ter filhos. É muitíssimo bem tratado e altamente honrado por todos - só que seu reinado é extremamente curto. Depois de um ano, deve ser sacrificado e substituído por outro, que se casa com a mesma rainha, e assim sucessivamente. O sacrifício anual do rei é considerado essencial para que a terra produza e as mulheres concebam. É a morte gerando a vida, e vice-versa: a serpente Ouroboros, com a cauda na boca. O círculo infinito. 

Quanto à escolha do novo rei, ela é deixada nas mãos dos deuses: será o primeiro forasteiro que entrar na cidade no dia determinado. No caso, Teseu. Suponho que para proporcionar um espetáculo melhor, ou apenas por questão de tradição local, a fórmula do sacrifício é um tanto diferente da comum. Em vez de ser colocado numa ara e ter o pescoço cortado por um sacerdote, o "antigo" rei enfrenta seu sucessor presumido numa luta até a morte. Não fica claro o que aconteceria se o primeiro vencesse; na verdade, na narração da cena, a sensação que se tem é a de que o rei se deixa vencer, como num sacrifício mesmo. Assim que ele morre, é como se jamais tivesse existido, e Teseu torna-se o novo queridinho da rainha e do povo de Elêusis - mas, mesmo com 17 anos de idade, ele mantém a perspectiva das coisas, e não esquece em momento algum que a areia na ampulheta já está correndo também para ele. 

Terei falado demais?? Então, melhor dizer que quem quiser saber de que maneira Teseu irá escapar da ratoeira real onde se enfiou terá que ler o livro. Daqui até o fim do post, abordarei alguns dos motivos da importância da figura de Teseu para a nação grega e o modo como esses pontos são abordados por Mary Renault.

Cnossos em sua glória

A Grécia foi durante séculos a civilização mais pujante do Mediterrâneo e de todo o ocidente, embora, por causa de suas divisões, nunca tenha possuído uma estatura política que igualasse suas realizações culturais - a menos que consideremos a época de Alexandre, mas, mesmo então, o que houve foi uma unificação forçada e artificial, que durou pouquíssimo tempo. De todo modo, antes dos gregos, um outro povo detinha a supremacia na região: os cretenses. 

Embora os gregos fossem conhecidos como marinheiros notáveis, os cretenses estavam ainda vários passos à frente deles nessa arte - e, numa época em que os poucos países civilizados que existiam dependiam quase completamente do tráfego marítimo para poderem interagir, dominar as rotas de navegação significava ter poder. Graças a sua invejável frota, Creta por muito tempo manteve as cidades gregas situadas na costa ou em ilhas (ou seja, quase todo o território do país!) sob um controle estreito. Por um lado, os cretenses mantinham o mar livre de piratas; por outro, cobravam pesados tributos e impunham restrições ao desenvolvimento de uma navegação independente pelos gregos. O rei de Creta, que governava de sua capital, Cnossos - sem dúvida uma das maiores e mais ricas cidades do mundo na época - era sempre chamado de Minos, o que não era um nome, e sim um título. 

Até aqui, é fato histórico. Daqui para a frente, é mito - e, se eu puder deixar aqui uma nota de protesto contra a conotação negativa que muita gente atribui a esta palavra, quero fazer isso citando um dos maiores estudiosos de mitos de todos os tempos, Joseph Campbell. As frases não devem ser exatamente assim, porque estou citando de memória, mas, em essência, dizem: "O mito é a verdade do homem, pois o homem se exprime no mito: portanto, o mito não é mentiroso. Não podemos ignorar o mito se quisermos compreender o homem" (o grifo é meu). Isto posto, vamos em frente. 

Conta-se que o rei Minos (um deles), após ter vencido disputas dinásticas para chegar ao trono, pediu a Poseidon um sinal: se seu reinado contasse com a aprovação dos deuses, que lhe aparecesse um touro branco, o qual ele prometia oferecer em sacrifício em seguida. Dito e feito: um grande e magnífico touro, branco como a neve, apareceu nos arredores do palácio, trazendo a confirmação que o rei desejava. Minos, porém, acabou desonrando sua promessa e, em vez de sacrificar aos deuses o valioso animal, manteve-o para si. Como castigo, a deusa Afrodite, a pedido de Poseidon, incitou na rainha Pasífae uma paixão insana pelo touro - paixão que ela, de alguma maneira, consumou. Dessa união não natural nasceu um monstro com corpo humano e cabeça de touro, que, embora tivesse recebido da mãe o nome de Astérion, ficou conhecido simplesmente como Minotauro, o "touro de Minos". Minos, aliás, sem dúvida pensou em mandar matar a criatura logo que nasceu, mas deve ter concluído que fazer isso atrairia ainda mais ira divina contra ele: os deuses haveriam de querer que Astérion permanecesse como um vergonhoso lembrete de seu crime. 

Logo que o Minotauro cresceu um pouco, tornou-se evidente sua natureza feroz, e, apesar de suas afinidades bovinas, estava longe de ser um herbívoro pacífico: seu alimento favorito era carne humana. Minos, então, incumbiu o famoso arquiteto Dédalo de construir um labirinto por onde Astérion pudesse perambular à vontade sem nunca achar a saída, o que foi feito. Em seguida, pensando ao mesmo tempo numa maneira de manter seu monstruoso enteado sem ter que sacrificar seu próprio povo, e em vingar a morte do filho Androgeu, que fora assassinado em Atenas, o rei determinou que, em acréscimo ao tributo anual que já lhe pagava em metais preciosos, cereais, vinho e azeite, aquela cidade, de agora em diante, deveria enviar a cada ano sete moças e sete rapazes, que seriam conduzidos ao labirinto para servir de alimento ao Minotauro. 

Essa situação já durava anos quando Teseu, tendo chegado a Atenas e sido reconhecido como filho pelo rei Egeu, decidiu que era hora de dar um basta. Ofereceu-se voluntariamente para ser uma das vítimas daquele ano, e, antes de embarcar no navio cretense, prometeu ao pai que, se voltasse vitorioso, trocaria as velas negras que a embarcação ora levava por outras brancas. 

Em Creta, a princesa Ariadne, filha de Minos e meia-irmã do Minotauro, apaixonou-se à primeira vista pelo jovem grego. Em segredo, antes que Teseu fosse para o labirinto, entregou-lhe uma espada e um novelo de lã, que, amarrado firmemente junto à porta e desenrolado à medida em que fosse avançando, lhe permitiria, depois, encontrar a saída. Teseu matou o Minotauro e embarcou de volta com seus companheiros, mas esqueceu-se de mudar as velas do navio como havia prometido. Ao avistar as velas negras aproximando-se do porto, o rei Egeu, desesperado pensando que seu filho tivesse morrido, lançou-se ao mar e morreu. Daí em diante, o mar que banha o leste da Grécia recebeu seu nome, que tem até hoje. 

Teseu teve muitas outras aventuras, desde raptar Helena de Esparta (mais tarde celebrizada como Helena de Troia) quando ela ainda era quase uma criança e ele já um homem de meia-idade, até raptar (também) Antíope, a rainha das ferozes amazonas da Ásia Menor, o que causou o lendário ataque delas contra Atenas. De Antíope, Teseu teve seu único filho legítimo, Hipólito, que protagonizaria uma autêntica tragédia, bem ao gosto dos gregos. Mas isso tudo daria (e talvez dê mesmo) assunto para mais uns três textos. Por ora, para finalizar este post, eu gostaria de chamar atenção para a realidade histórica por trás do mito do Minotauro e do labirinto.

Além de seu poderio naval, a ilha de Creta era famosa por seu gado - vacas e touros formidáveis, bem maiores e mais possantes que a raça criada pelos gregos. A figura lendária do Minotauro, que fundia homem e touro, surgiu lá, e para os cretenses tinha provavelmente um significado muito diferente do que a lenda grega mais tarde lhe daria: não um sinal de infâmia nem um monstro cruel, mas sim um símbolo de força e poder. Com essa conotação, foi adotado como uma espécie de emblema oficial pelo Estado cretense, como a águia seria mais tarde para Roma: a figura do Minotauro ornava as velas dos navios de Creta e as fachadas de seus palácios, e passou a ser associada, tanto pelos próprios cretenses quanto pelos gregos, à nação cretense em si mesma. Portanto, "matar o Minotauro" significa provavelmente que Teseu liderou os gregos numa rebelião, que derrubou o poder de Creta e transformou a ilha em possessão helênica. De fato, quem for ler a Ilíada de Homero encontrará, nessa narrativa sobre a Guerra de Troia, um personagem chamado Idomeneu, que é apresentado como rei de Creta, e é, em tudo e por tudo, um heleno. Portanto, tudo sugere que, poucas décadas depois do tempo de Teseu, Creta havia sido colonizada pelos gregos e era agora um reino helênico. O labirinto, por sua vez, pode ser uma referência ao palácio real de Cnossos, que tinha tantas salas e corredores que seria fácil perder-se dentro dele. 

Quanto ao sacrifício anual de sete moças e sete rapazes, Mary Renault adota a versão de que eles iriam na verdade participar de algo que era ao mesmo tempo parte de um ritual religioso e espetáculo popular: a Dança do Touro, na qual uma equipe de atletas - homens e mulheres jovens, de preferência pequenos, leves e ágeis - realizava uma exibição que era um misto de tourada com ginástica artística. Um touro furioso era solto na arena com os dançarinos, que, além de sobreviver, deviam dar um bom espetáculo, por meio de saltos, esquivas ágeis e assim por diante. A façanha suprema, que assegurava ao dançarino o respeito dos companheiros e a adoração da plateia, consistia em equilibrar-se plantando bananeira sobre o dorso ou os chifres do bicho. Nem é preciso dizer que o índice de mortalidade entre os Dançarinos do Touro devia ser altíssimo, de modo que, quando cada novo grupo chegava, deviam restar muito poucos do ano anterior ainda vivos. 

Há muitos outros detalhes interessantes que quem ler Rei Morto, Rei Posto e tiver algum conhecimento sobre história e mitologia gregas perceberá, e eu bem gostaria de mencionar tudo o que encontrei, mas, mesmo que quem lê este blog já haja demonstrado que não tem medo de textos longos (risos), acho que ainda assim é bom manter um pouco de moderação, então vou colocando o ponto final por agora. Creio que os livros de Mary Renault devem estar fora de catálogo no Brasil, mas não tive dificuldade em achá-los em bons sebos. E qualquer um desses livros que caia nas mãos de vocês pode ser plenamente recomendado. 

Em tempo: quando li o livro pela primeira vez, foi numa edição diferente, não lembro de que editora era, e a capa fugiu-me quase completamente da memória. O exemplar que tenho hoje foi comprado num sebo faz algum tempo e foi lançado pelo Círculo do Livro, com a capa que aparece no início deste post - capa, por sinal, péssima. Já vi chifres maiores e caras mais assustadoras num tambo de leite que visitei certa vez do que no Minotauro nela representado, e, quanto ao herói que aparece, lembra muito mais a descrição tradicional de Hércules que a de Teseu.